domingo, 18 de maio de 2008

Instantes

Vanessa Guedes, minha escritora preferida, tem me introduzido ao mundo literário. Sinto-me mal por nunca ter apreciado a leitura, mas lentamente tenho tomado gosto pelo mundo das palavras. Ontem, num passeio gostoso da tarde pela Fnac, Van me presenteou com mais um livro, Admirável Mundo Novo, que logo mais devo escrever a respeito neste blog. A paulista catarinense anda numa busca por se atualizar com todos os livros e escritores que deveria conhecer devido suas aulas. E pela primeira vez, eu conhecia um escritor q ela desconhecia. Jorge Luis Borges. Na verdade, só conhecia um poema dele, q na minha adolescência recitei numa aula de teatro. Como não achei nos livros da Fnac o famoso poema, me comprometi em encontrá-lo na internet. E q tamanha foi a minha surpresa, qdo descobri q o famoso poema não é de autoria dele! Ou seja, continuo não conhecendo nada sobre o mundo literário! Mas, existe uma explicação para esta confusão, abaixo a explanação e o poema Instantes, q mesmo não pertecendo ao importante escritor, não deixa de ser bonito.

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Instantes, o "Borges" que Borges nunca escreveu, foi usado pelo deputado federal Luiz Antônio Medeiros num cartão de Natal, reproduzido em pôsteres pelo dono do jornal carioca O Dia, Ary de Carvalho, citado como epígrafe no livro de poesia de Granadeiro Guimarães e encaminhado na semana passada ao jornalista paraibano Carlos Aranha, que o reproduziu em sua coluna diária no jornal Correio da Paraíba, de João Pessoa. Citado uma vez num artigo por Roberto Campos, provocou uma enxurrada de cartas ao economista.
Isabel Vieira e Laura Müller deram, em reportagem publicada pela revista Cláudia em dezembro de 1997, uma explicação plausível para o sucesso do poema: "seus versos falam de uma segunda chance na vida que todo mundo gostaria de ter". Deram também uma pista para a origem da confusão com Borges: a verdadeira autora, a americana Nadine Stair, como ele, tinha 85 anos e estava à beira da morte. O poema, originalmente sob o título de Momentos, era uma espécie de testamento dela.
A viúva do escritor, Maria Kodama, contou, por telefone de Buenos Aires, que teve o cuidado de ir à Justiça deixar registrado que o texto não era da lavra de Borges e que ela, como sua herdeira, não receberá - nem quer receber - direitos autorais dele advindos. Fê-lo para evitar que sua verdadeira autora, a norte-americana Nadine Stair, venha a reclamar da falsa atribuição de autoria do texto a Borges.
Segundo Kodama, "o poema foi publicado originalmente numa antologia editada pela Bantam Books, traduzido para o castelhano e incluído, em 1987, numa revista de New Age chamada Uno Mismo, ao lado de uma caricatura e uma legenda de Jorge Luis Borges. Um locutor de rádio leu a revista, imaginou que o poema fosse de Borges, então já morto, e, assim, o divulgou".
O escritor gaúcho Moacyr Scliar sente-se parcialmente responsável por sua divulgação no Brasil, por ter encontrado o texto em Buenos Aires e o publicado em português, em Porto Alegre. Mas, depois, fez questão de reproduzir o esclarecimento de Maria Kodama no jornal. Só que isso até agora de pouco adiantou. O texto continua circulando impresso ou na telinha do computador, como se fosse uma espécie de pecado literário borgiano. Má-fé ou engano?
Mesmo havendo indicações de que tudo pode não ter passado de um engano em cadeia, Maria Kodama não afasta a possibilidade de haver uma dose de má-fé na insistente atribuição do poema, que, segundo ela, "é péssimo", ao gênio portenho.
A hipótese do engano é reforçada pelo que ocorreu com um trecho do poema No Caminho com Maiakóvsky, de autoria do brasileiro Eduardo Alves da Costa, muito citado como se fosse do alemão Bertolt Brecht, por ter sido incluído num pôster ao lado de um poema do autor de Turandot, ou do gênio russo, certamente por este haver sido citado no título. O problema é que, ao contrário desse caso, em que o poema é de boa qualidade literária, os textos falsos são de má feitura.
De Madri, onde mora, pela mesma Internet que dissemina esses equívocos, o jornalista dissidente cubano Carlos Alberto Montaner contou a saga de um chileno chamado Undurraga. Segundo ele, "o tipo misturava versos de Pablo Neruda com editoriais do jornal cubano Granma, compondo poemas falsos que conseguia publicar em publicações especializadas ou inscrevê-los em concursos literários, que vencia por atribuí-los sempre ao grande poeta chileno".
O que mais intriga, no caso do falso poema em prosa, de autor desconhecido e atribuído a García Márquez, é ele se assemelhar muito ao falso poema atribuído a Borges, mas de autoria conhecida. É mais um mistério na Internet.

Instantes
Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida:
só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo.

De Nadine Stair - Atribuído a Jorge Luís Borges

Site pesquisado: http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/neumanne.htm

Um comentário:

Vanz disse...

Que histório ótima!

Dá um conto: "O conto do não-contista".
Entao somos duas leigas em Borges, mas logo não seremos mais: deixa só eu terminhar o Jogo da Amarelinha, do Cortázar, que dizem que era brother do Borges, para esse tal de Borges ser abocanhado por mim.

Nhac, nhac, nhac - devoro tudo!

E de lambuja seleciono para você o que de melhor podemos conhecer de Borges, para poupá-la deste árduo trabalho de despencar sem pára-quedas nas vidas e obras dessa gente tão mais humana que nós chamada escritores.

Um grande beijo.

(te amo)
eu também